segunda-feira, 3 de novembro de 2008

“Excluídos”: O gosto amargo de morar no Espírito Santo

Hoje, segunda-feira, três de novembro. Dia de uma participação ilustre no Teatro Carlos Gomes: Fernanda Montenegro encena o monólogo “Encontro com Fernanda”, às 20h. No entanto, o governo do Estado e sua eficiente organização fazem questão de manchar a ocasião. Novamente, a população não pôde prestigiar um evento como esse: como disse uma das organizadoras, o evento é restrito à CLASSE artística-cultural do Espírito Santo.

Eu e mais quatro colegas da Ufes (companheira de blog Gabi, Joyce, Ana, Victor) fomos ávidos em busca de um ingresso. Saímos antes do término da segunda aula (justamente a do professor da matéria desse blog, desculpe-nos). Chegamos, por volta de 11:45. Com uma fila considerável – mas com muito menos que trezentas pessoas – esperamos cerca de 20 minutos até sabermos que senhas foram distribuídas a quem havia chegado antes. E que somente 180 pessoas poderiam receber os ingressos.

Monique, pedaço do braço do Victor e a fila. Na foto, já andamos um pouco. Foto: Daiana Rodrigues

Tentamos protestar, fizemos cartazes (Cadê Zazá? Quero ver Bia Falcão), cantamos, chamamos a imprensa, mas de nada adiantou. Ficamos privados de um espetáculo desse “nível” (não pela protagonista, mas pelos ‘ilustres’ presentes). A grande questão é que a lotação do Teatro é de 450 lugares. Isso significa que 270 ingressos foram DADOS a certas pessoas.

Segundo matéria do site GazetaOnline (que, de acordo com nossas ligações e também de outros presentes, cobriu a ‘manifestação’) “Com relação a distribuição de apenas 180 senhas para a população, a secretaria alega que foram distribuídos alguns (nota da blogueira: é eufemismo ou não é?) convites antes para convidados do lançamento do Fundo, a ser realizado pouco antes do espetáculo. Estes convidados seriam membros da classe artística do Estado”, afirmou a Secretaria de Cultura do Estado.

A blogueira pagando careta atrás da fotografada. Qualquer mico por um direito nosso! Foto: Edson Chagas


O título da matéria do site é "Confusão na distribuição de ingressos para peça de Fernanda Montenegro em Vitória". Que fique bem claro os responsáveis pela tal confusão: o GOVERNO. Ninguém que estava ali usou palavras ofensivas nem agrediu sequer uma pessoa. Só usamos nosso direito de fala ao vento (e às câmeras, confira no ESTV 2ª edição de hoje). Certo?

Grande FUNDO de cultura, apenas para os artistas. Abertura de luxo, não é? Fernanda Montenegro, somente para alguns. Para mim, artista é quem consegue trabalhar todos os dias e ainda pagar o salário de tanto deputado e vereador!

Mais uma vez, a população se contenta com a novela das 20h. E se vê enganada e ludibriada por informações desencontradas: todos os veículos de comunicação que divulgaram o evento não informaram sobre a limitação de 180 ingressos para “populares” nem sobre a distribuição de senhas, já que não pertencemos a essa ELITE cultural – que estará, com certeza, nas páginas das colunas sociais (viva a palhoça...).

Pois bem, que elite? No ESPÍRITO SANTO? Eu toco piano. Por isso, sou artista. Ana e Joyce são produtoras e diretoras de áudio-visual, são artistas ganhadoras de prêmio. Gabriela Leal é internacional. Victor é um conhecedor das letras. Muitos eram professores, estudantes, vendedores. Tanto faz. São ARTISTAS. Não importa o que fazemos.

Pagar impostos pode servir para muitas coisas. Mas, também, para ter acesso à cultura: isso, nosso Estado não faz nenhuma questão de promover em larga escala. Apenas para quem tem cadeira cativa nos interesses do governo. Um gosto muito, mas muito amargo de morar numa província que se desenvolve eternamente, mas nunca muda.

E esse é apenas um dos inúmeros exemplos de exclusão.

****UPDATE BREAKING NEWS****

Segundo Joyce Castello, minha companheira de batalha na tentativa de conseguir um ingresso, a vitória foi alcançada!!!!!!!!!!!!!!!!
Ela deixou um comentário em outro blog que colaboro, o Piniqueiras, dizendo o seguinte:

Moniiiiique e Gabi, vocês não estão sabendo!!

Insistimos por nosso lugar no teatro e, depois de muito suor, entramos. O povo todo que apareceu conseguiu entrar, afinal, a "classe artística" não compareceu em peso.

Não era bem uma peça teatral. Fernanda promoveu um diálogo aberto com a platéia, ou seja, deu voz ao público. Nesse lance de interatividade, adivinhem quem foi a estrela??

ROSEMARY, filhas!
[NOTA DA BLOGUEIRA: ROSEMARY FOI UMA DAS MAIS ENGAJADAS NA LUTA PELO INGRESSO. PROFESSORA NOTA DEZ!]

Rose falou à Fernanda de sua saga para adentrar o evento, onde era, segundo ela, uma penetra. Em seguida, lhe entregou um presente confeccionado durante a tarde de incertezas em sua escola, ao lado de seus alunos amados! Foi lindo!!
Por fim, teve as mãos beijadas pela atriz!

Fora o fulgor da presença de Rosemary, nada mais me lembro. A platéia fazia umas perguntinhas cretinas e aplaudia sem parar. Foi morno, mas era preciso estar lá. Muito preciso.

Perdeu, playboy!



Matéria do GazetaOnline com ROSEMARY!

É isso. No final, quem pagou o grande MICO foi mesmo o governo do Estado: classe artística ficou vendo novela e quem realmente quer CULTURA DE VERDADE foi lá. Uma pena que não compareci, pois tive um aniversário de uma senhora de 81 anos para ir, soube de última hora. Mas, fico feliz por todos que conseguiram entrar! Quem quer e acredita, alcança.

8 Told us something new!:

Fiorella Gomes disse...

haiUHauHOIuahiUahouiHauioA
adorei!

"Eu toco piano, logo sou artista. Joyce e Ana são produtoras e editoras de audio-visual e ganhadoras de prêmio. Vitor é um conhecedor das letras. GABRIELA É INTERNACIONAL."

aIUOaHauoahouahuiOHauiHOiauhUAhou

mas eh uma palhaçada SEM IGUAL MESMO!

e olha que vcs saíram cedo..
ainda bem que eu não poderei ir.. pq senao, estaria bufando sinistramente!

;* menina protestante!

Gabriela Leal disse...

HAUAHAUAAHAUAHAAUAHAUAHAUAAHAUAHAUAH
rápida no gatilho, MÔNIS.
causamos furor, babado & confusão.
aposto que foi mesmo um decreto de Bia Falcão para vetar gente piniqueira do recinto - mas também somos formadoras de opinião, ora pois. cadê nosso direito? o jeito foi alardear.

quanta sacanagem.
fritar no sol e dar de cara com um "ESGOTADO" injusto e deslavado só porque estamos à margem da so called elite artística capixaba - hello? quem mesmo? me arranje um sobrenome COLUNÁVEL que eu incorporo A arte agora.
abaixo o "NEPOTISMO CULTURAL", já dizia a ana.
é isso aí, cidadãos comuns desprestigiados em função da reserva prévia de ingressos para figuras ditas influentes nessa terrinha metida-a-besta. e o governo do Estado ainda é conivente com a postura "oligárquica".
BOCEJOS pra essa roça ainda tão excludente e desorganizada.

o pior foi aquela senhorinha de idade desavisada no final, toda triste por ter vindo de ônibus de jardim camburi e se deparar com a janelinha de distribuição fechada. de doer o coração.

Darshany L. disse...

só pra comentar que adorei o selinho do meu blog ali do lado ^^

Joyce Castello disse...

Ai, a velinha foi de dar pena!!

Ana C. disse...

"O espetáculo faz parte da programação do lançamento Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), que será assinado no teatro com a presença do governador Paulo Hartung e da secretária de Estado da Cultura, Dayse Lemos.


AHAM, SENTA LÁ.


gente! vocês viram os comentários na matéria do gazetaonline? achei ótimo esse:

Se as regras da distribuição dos ingressos para o lançamento do fundo de cultura foram omissas e obscuras desta forma, imagine o que podemos esperar da utilização/distribuição do dinheiro reservado para a execução dos projetos inscritos após o edital!

sem mais o que falar.

aí, monique... cobertura completa, no ato e, melhor de tudo, participativa. ;)

haha muita piniquice a nossa hoje...

cara, que dó da velhinha... :/

Ana C. disse...

HAHA mas o melhor mesmo foi o da monique:

Eu estava lá. Fui entrevistada pela A Gazeta. Uma VERGONHA. Total desrespeito com a população, apenas 180 ingressos distribuídos. Quando há 450 LUGARES. Amigos do Fundo? CLASSE ARTÍSTICA? QUEM É A CLASSE ARTÍSTICA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO? Pagamos impostos, raramente temos programação cultural e, quando acontece, ficamos à MARGEM E COM PORTAS BATIDAS NA NOSSA CARA. Tenho raiva e revolta, pois sei que isso NUNCA VAI MUDAR NUM ESTADO PROVINCIANO COMO ESSE. 180 ingressos para a população. Isso é tentativa de inclusão? Parabéns, governo do Estado. Novamente o QI (quem indica) vale. Parabéns.

MichelliPossmozer disse...

Gostei do protesto!! Mas meninas, quem acredita sempre alcança... vcs não acreditaram...Mas... valeu desacreditar. Prestigiaram o post! ;)

Jananda. disse...

Botou pra quebrar, Monique! Adorei!! A situação foi lamentável. E eu que tinha pensado em chegar cedo à noite, pra pegar lugar. rs! Quando ouvi os clamores pela tarde, nem tentei. Parabéns para vcs que prosteram. Aqui a coisa é assim mesmo, ontem, no primeiro dia do monólogo da Drica, tb rolou disso. Boa parte das cadeiras já estavam reservadas. A diferença é que serão 3 dias de peça...então, os "populares" terão mais oportunidades.

ps:daria meu reino para saber quem compunha a tal CLASSE ARTÍSTICA. Pff!

beijo!